Uso de maconha com THC de 10% ou mais pode levar a aumento de 500% no risco de transtorno psicótico, afetando metilação do DNA conforme epigenética.
A cannabis é um tema complexo e multifacetado que continua a fascinar cientistas e profissionais de saúde. Ainda há muito a ser descoberto sobre os efeitos da cannabis no cérebro, especialmente em relação ao seu potencial para desencadear psicose em alguns usuários. No entanto, nosso estudo recente representou um importante passo em direção à compreensão desses mecanismos.
Por meio de uma busca minuciosa, nossa equipe identificou uma possível conexão entre a cannabis de alta potência e os sintomas de psicose em indivíduos que a consomem. Nosso estudo, publicado em junho de 2022, explorou a relação entre a Delta-9 tetrahidrocanabinol (THC), a principal substância psicoativa da cannha, e os efeitos colaterais adversos. Os resultados sugeriram que a maconha potente pode desempenhar um papel significativo no desenvolvimento de psicose, especialmente em contextos de uso frequente e em altas doses.
Alterações no DNA após o uso de cannabis de alta potência
Nossa pesquisa publicada na revista Molecular Psychiatry revelou que o uso de cannabis de alta potência deixa uma marca distinta no DNA. A quantidade de THC, responsável por fazer com que as pessoas se sintam ‘chapadas’, tem aumentado constantemente desde a década de 1990 no Reino Unido e nos Estados Unidos. No Colorado, onde a droga é legal, é possível encontrar cannabis com 90% de THC, um dos 144 produtos químicos encontrados na planta. A diferença é que o THC é o principal composto usado para estimar a potência da maconha. Muitos estudos mostraram que quanto maior a concentração de THC, mais fortes são os efeitos sobre o usuário.
Consequências do uso diário de cannabis de alta potência
As pessoas que fumam diariamente cannabis de alta potência, com THC de 10% ou mais, têm cinco vezes mais probabilidade de desenvolver um transtorno psicótico em comparação com outras que nunca usaram cannabis. As perturbações psicóticas associadas ao uso diário de alta potência podem incluir alucinações auditivas, delírios de perseguição e paranoia, experiências angustiantes e incapacitantes.
Estudo sobre a metilação do DNA e o uso de cannabis
Nossa pesquisa teve como objetivo explorar a marca que o uso atual de cannabis deixa no DNA. Além disso, queríamos entender se essa marca é específica do uso da planta de alta potência e se isso pode ajudar a identificar os usuários com maior risco de sofrer transtornos mentais. Para isso, examinamos os efeitos do consumo de maconha em um processo molecular chamado metilação do DNA, que é um processo químico que regula a atividade gênica, ativando ou desativando genes e controlando como são expressos, sem alterar a estrutura do próprio DNA.
Epigenética e o impacto do uso de cannabis
A epigenética é um desenvolvimento biológico importante que sustenta a interação entre nosso ambiente, as escolhas de estilo de vida que fazemos (como usar cannabis ou fazer exercícios) e nossa saúde física e mental. A metilação do DNA é apenas um dos muitos mecanismos que regulam a atividade gênica. Embora estudos anteriores tenham investigado o impacto do uso de cannabis ao longo da vida sobre a metilação do DNA, eles não exploraram o efeito que o consumo regular de diferentes potências do ‘baseado’ tem sobre esse processo. Tampouco exploraram como isso afeta as pessoas que sofrem de psicose.
Levantamento de dados sobre o uso de cannabis e psicose
Nosso levantamento combinou dados de dois grandes estudos de psicose e uso de cannabis. A nossa pesquisa revelou que o uso de cannabis de alta potência deixa uma marca distinta no DNA, e que essa marca é diferente em pessoas que tiveram seu primeiro episódio de psicose em comparação com usuários que nunca tiveram psicose. Isso sugere que observar como o uso de cannabis modifica a molécula poderia ajudar a identificar as pessoas com maior risco de desenvolver o transtorno mental.
Fonte: @ Veja Abril
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