A questão racial impacta fortemente a identidade étnica, destacando desigualdade social e cor da população negra em nossa história oficial.
Machado de Assis: uma contradição racista, um dos principais expoentes da literatura brasileira, serviu como exemplo de como o racismo pode influenciar a percepção social da identidade de uma pessoa. No século XIX, quando Machado vivia, ele era negro, mas seu lugar de destaque nas letras brasileiras contrastava com a desigualdade social enfrentada pelos afro-brasileiros da época.
No entanto, a carreira literária e a posição social de Machado não escaparam da influência do racismo e do preconceito social. Sua obra, embora de grande valor literário, reflete a visão de mundo de sua época, muitas vezes silenciando a experiência dos negros e marginalizando suas contribuições. A discriminação racial foi um dos principais obstáculos enfrentados por Machado e muitas outras pessoas negras no Brasil do século XIX.
Desvendando o Rastro do Racismo Silencioso no Brasil
O racismo constante que Vini Jr. enfrenta na Europa e sua determinação em punir agressores é apenas um dos muitos exemplos do racismo que permeia a sociedade brasileira. Nos últimos anos, a questão racial de Machado de Assis, considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, se tornou uma bandeira importante para a afirmação e valorização da população negra. No entanto, a identidade racial de Machado de Assis é um assunto controvertido que remonta à sua própria vida.
A certidão de óbito de Machado de Assis, assinada pelo escrivão Olympio da Silva Pereira, traz uma informação intrigante, senão polêmica: a nona linha do formulário declara que sua cor era ‘branca’. Isso contrasta com a crescente consciência da população negra sobre a importância da identidade racial de Machado de Assis. A historiadora Raquel Machado Gonçalves Campos, professora na Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que não há documentos que revelem como Machado de Assis se identificava. ‘Nós não sabemos até o momento. Não há nenhum documento que tenha chegado até nós que traga essa informação, como o próprio Machado se identificava, como ele se via. Temos depoimentos só de terceiros’, explica.
Um dos documentos citados por ela é a carta enviada pelo poeta português Gonçalves Crespo a Machado, com data de 6 de junho de 1871. O trecho da correspondência diz: ‘A Vossa Ex., já eu conhecia de nome há bastante tempo. De nome e por uma certa simpatia que para si me levou quando me disseram que era… de cor como eu’. A professora Campos salienta que a expressão ‘de cor’ era a mais comum naquele momento histórico para descrever pessoas negras. ‘Machado é visto como um homem ‘de cor’ por um escritor de seu próprio tempo’, destaca.
A historiadora Cristiane Garcia, pesquisadora na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), traz outro elemento que pode indicar que o escritor, em vida, se via como negro. ‘Eu pesquiso Machado de Assis quando jovem. Entre o final de 1854 e início de 1855, Machado de Assis passou a frequentar a tipografia de Francisco de Paula Brito, tipógrafo, editor e homem de letras, negro como Machado’, conta. ‘A tipografia de Paula Brito foi responsável pela imprensa negra de meados do século XIX, no Brasil. Não só isso: ali se organizava uma rede de homens negros que se ajudavam e protegiam, pelo menos até os primeiros anos da década de 1860’.
A condição de ser homem negro na sociedade da época é uma questão presente na produção deles, em alguns jornais que saíam da tipografia do Paula Brito, no posicionamento político, na luta pela igualdade racial. No entanto, o racismo silencioso ainda existe, e é necessário que a sociedade brasileira aborde essa questão com seriedade e determinação para mudar o status quo.
Fonte: @ Nos
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