Espaço para discutir bem estar, alimentação saudável e inovação, com pães de fermentação natural e rituais natalinos feitos com farinha, que temos na árvore de Natal, lâmpadas e pão.
É o momento da festa, com receitas tradicionais e ingredientes frescos, que prometem fazer o Natal de 2023 inesquecível para familiares e amigos. A decoração da casa está completa com pinheirinhos, xingú e arco-íris de luzes em toda a parte. Mas, por trás da beleza e da alegria, há também o panetone fazendo a festa, com suas fórmulas secretas e ingredientes nobres.
Com o Natal cada vez mais perto, muitos estão ansiosos para experimentar um dos culminantes da festa: o panetone. E não é à toa, pois essa iguaria tão brasileira é o recheio do Natal. Além de ser uma iguaria deliciosa, o panetone é uma tradição que se mantém, inalterada, ao longo dos anos, com sua fórmula secreta mantida em segredo. É só pensar na fama de seus sabores e na diferenciação que ele traz para a mesa, que já se faz a festa.
Um Delicioso Aromatizado
O aroma característico do panetone nos coloca no clima da época e, mesmo se nem todos são fãs da receita clássica, não falta jamais alguma versão do doce nas festas de fim de ano. Mencionei a receita clássica; o esperado seria falar, agora, de como nasceu. E aí a coisa enrosca, como os fios de lâmpadas que temos de desembaraçar ao montar a árvore de Natal.
De certo, sabemos apenas que ele veio do norte da Itália – mas mesmo por lá ninguém consegue cravar sua verdadeira história. O mais famoso desses mitos diz que o doce nasceu de um equívoco. Nessa lenda, um cozinheiro de nome Toni teria queimado a sobremesa do banquete de Natal de Ludovico Sforza, conhecido como ‘O Mouro’, o nobre que reinava em Milão no fim do século 15.
Pães de fermentação natural, massa madre (o ‘levain’), e uma mistura de ingredientes como manteiga, uvas passas, e frutas cristalizadas entravam na receita. O duque Ludovico teria sido o responsável por batizar o nome de ‘pane de Toni’. Outras narrativas podem ser menos interessantes, mas talvez sejam mais verídicas.
Uma delas foi registrada por Giorgio Valagussa, mentor dos jovens da casa Sforza. Ele escreveu, em 1470, sobre o ritual natalino em que, nos lares das pessoas comuns, se aquecia na lareira um pão feito com farinha de trigo. Sempre se guardava para o ano seguinte uma fatia desse alimento, considerado especial porque, no resto do ano, os padeiros só podiam usar trigo para fazer o ‘pan de sciori’, dos senhores, também chamado ‘pan de ton’.
Mas, nessa ocasião, o povo tinha direito a esse preparo, enriquecido com açúcar, ovos e manteiga. Muita manteiga, aliás, como apontam as receitas do século 16, próximas da atual. Inclusive uma possível raiz para a palavra ‘panetone‘ viria de ‘panetto’, que em italiano significa uma porção de alguma substância compacta, como a manteiga. ‘One’ é um aumentativo. Assim, um ‘panettone’ seria um montão de manteiga!
Mais confiável, porém, é a entrada de um dicionário de milanês-italiano que, no século 16, descreve ‘panaton’ como ‘grande pão preparado no Natal‘. Continua.
Unânime é a associação do panetone à fartura, desejo apropriado aos fins de ano. Seus ingredientes não eram os de todo dia. E, para muitos brasileiros, poderiam não ser de dia algum: muitos torcem o nariz para as frutas cristalizadas. E daí vêm as variantes locais.
A primeira foi responsabilidade de Carlo Bauducco, que notou que suas visitas separavam a fruta e inventou uma versão com chocolate, registrando o ‘Chocottone’. Hoje, porém, há de todo tipo: com recheio cremoso, trufado, de sorvete, de doce de leite, de cupuaçu e até salgado.
Não importando qual versão se escolha – para a origem ou para a iguaria –, o panetone é uma tradição. Não nego meu amor pela manutenção dos legados culturais. Então, com a moderação de sempre, não deixo de tê-lo à mesa no Natal, para recordar, ano a ano, a história de abundância que ele carrega.
Fonte: @ Veja Abril
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