Fantasias extremas sobre dominar mulheres, antes apenas fantasias, estão sendo “normalizadas” no mundo real, levando a comportamento de violência sexual contra vítimas, julgando o homem.
Escutas de conversas privadas danificam a vida de Gisele e de muitas outras mulheres, e o que sabemos sobre o estupro de Gisele Pelicot é que ele foi um evento isolado, que ocorreu em um dia de verão de 2001, na Ilha de Ré, no sudoeste da França. Seu estupro foi um ato de crueldade, que foi cometido por um homem jovem, que era conhecido por Gisèle, e que estava usando uma fantasia de vampira.
Como a advogada feminista Camille Kouchner descreveu em seu livro, publicado em 2021, “A minha irmã foi estuprada”, o estupro foi parte de uma prática de abuso sexual, que era comum naquela época e em aquele ambiente social. E, como ela também descreveu, a sensação de impunidade que se seguiu ao estupro, foi tão grande, que ela se sentiu impotente para fazer algo, e que nunca mais foi capaz de se sentir segura. E, como ela também descreveu, o impacto do estupro na vida de Gisele e de suas amigas, foi de tal ordem, que elas nunca mais foram capazes de se sentir seguras, e que elas passaram a viver com um medo constante de serem vítimas de um ato de agressão.
Estupro: O que impulsiona o comportamento violento de homens?
Enquanto o julgamento de Dominique Pelicot se desenrolava em um tribunal em Avignon, eu me vi acompanhando cada detalhe terrível, e depois discutindo com minhas amigas, filhas, colegas e até mesmo com mulheres do meu clube de leitura local, enquanto tentávamos processar o que havia acontecido. A história de Gisèle Pelicot, uma avó aposentada, foi objeto de fascínio e horror. Por quase uma década, o marido de Gisèle, Dominique Pelicot, a drogou sem o seu consentimento e convidou homens que conheceu na internet para fazer sexo com a esposa ‘Bela Adormecida’ no quarto do casal, enquanto ele os filmava.
A questão de consentimento: Um crime sexual é sempre um estupro
Estes estranhos, com idades entre 22 e 70 anos, com profissões distintas como bombeiro, enfermeiro, jornalista, carcereiro e soldado, obedeceram às instruções de Dominique Pelicot. Como desejavam um corpo feminino submisso para penetrar, eles tranquilamente fizeram sexo com uma avó aposentada, cujo corpo fortemente sedado se assemelhava a uma boneca de pano. Este caso é um exemplo extremo de vídeos de estupro, mas é um exemplo de como um homem pode se tornar uma vítima de um estupro, sobretudo mulheres, na forma de abuso doméstico ou assalto sexual.
Desenvolvimento de comportamento violento
Eles eram, aparentemente, como ‘qualquer outro homem’ na pequena cidade do sul da França onde os Pelicot moravam. Uma mulher na faixa dos 30 anos me disse: ‘Quando li sobre o caso pela primeira vez, não quis ficar perto de nenhum homem por pelo menos uma semana, nem sequer do meu noivo. Fiquei simplesmente horrorizada’. Outra, com quase 70 anos, da mesma geração de Gisèle Pelicot, não conseguia parar de pensar no que poderia estar passando pela cabeça dos homens, até mesmo de seu marido e filhos. ‘Será que isso é apenas a ponta do iceberg?’
Impacto do julgamento no contexto da violência sexual
Alguns dos homens que foram julgados no tribunal de Avignon Foto: Reuters / BBC News Brasil. Como a escritora e terapeuta Stella Duffy, de 61 anos, escreveu no Instagram no dia em que o veredicto foi anunciado: ‘Espero e tento acreditar que #notallmen, mas imagino que as esposas, namoradas, melhores amigas, filhas e mães do vilarejo de Gisèle Pelicot também pensavam assim. Agora elas pensam de modo diferente. Todas as mulheres com quem converso dizem que esse caso mudou a maneira como elas veem os homens. Espero que tenha mudado a maneira como os homens veem os homens também’. O caso de Gisèle Pelicot trouxe à luz um aspecto profundo da violência sexual, demonstrando como um homem pode manter muitas vítimas no curso de sua vida e como a falta de consentimento pode ser um comportamento comum de homens que se consideram ‘comuns’.
Fonte: @ Nos
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