Tradição popular de Pernambuco com séculos de história, incluindo maracatu, cultos afro e emblemas oficiais como brasão e marcas.
A identidade cultural pernambucana é marcada por um símbolo de bravura e força: o Leão do Norte. A exposição “Um Leão na Paisagem” no Museu da Cidade do Recife, localizado no Forte das Cinco Pontas, é uma homenagem a essa representação icônica. Com registros que remontam a 1904, a mostra é uma oportunidade para refletir sobre a construção da identidade cultural do povo pernambucano.
A exposição é resultado de uma pesquisa aprofundada que revelou a primeira marca com o termo “Leão do Norte” na Junta Comercial de Pernambuco. Além disso, a mostra também explora a relação entre o Leão do Norte e o Leão coroado, outro símbolo importante da região. O Leão do Nordeste também é mencionado como uma representação da força e da resistência do povo nordestino. A bravura do povo pernambucano é um legado que continua a inspirar. A exposição fica em cartaz até o final de outubro, oferecendo uma oportunidade única para conhecer melhor a história e a cultura da região. Um verdadeiro tesouro cultural aguarda por você no Museu da Cidade do Recife.
O Leão do Norte: Um Símbolo Pernambucano
É natural chamar o povo pernambucano de ‘Leão do Norte’, afinal, a imagem está presente em símbolos oficiais e populares, como a bandeira de Recife e o escudo do Sport Club Recife. Mas qual seria a explicação dessa tradição, considerando que leões não são animais da fauna brasileira, nem americana, e que Recife está no Nordeste, não no Norte?
A pesquisadora Gisela Abad foi atrás das respostas e publicou um livro e montou exposição em que destrincha a construção cultural referente ao ‘Leão do Norte’. As marcas iniciais podem ser encontradas ainda no século 16, no brasão da carta de concessão da Capitania de Pernambuco a Duarte Coelho. No brasão das armas de Maurício de Nassau, no século 17, também. E ainda está relacionado ao maracatu e aos cultos afro, chamados de xangôs.
O Leão Coroado e o Leão do Nordeste
Focada em um período de 40 anos entre o final do século 19 e começo do 20, a pesquisadora buscou registros de marcas na Junta Comercial de Pernambuco, através dos quais é possível conhecer rótulos de produtos. Descobriu que o leão aparece designando refinaria, padaria, sabão, bolacha, cigarros, fábrica de cadeiras, entre outros. Descobriu também que, à medida que assume o papel de ‘garoto propaganda’, a imagem do leão vai mudando. Deixa de ser ‘guerreiro, insurreto, agressivo’ para ser transfigurado em um signo ‘cordato, amigo, domesticado, amestrado’. Em alguns casos, até lembra ‘um gatinho’.
Gisela Abad explica o processo em entrevista exclusiva. ‘Não seria mais exato chamar de ‘leão do Nordeste’, ao invés de ‘Norte’?’, questiona. ‘Nós éramos Norte. A invenção do Nordeste se deu por Gilberto Freire e companhia no início século passado, quando se tem uma percepção geográfica e cultural do que seria o Nordeste.’
O Leão Coroado da Revolução de 1817
‘Quem era o ‘leão coroado’ da Revolução de 1817?’, pergunta Gisela Abad. ‘Não tenho provas, mas suponho que este leão coroado era um homem mestiço, do povo. Era um exemplo na carreira militar. Ele se juntou à revolução com mais de 60 anos, foi morto, esquartejado, um ícone de bravura.’
A expressão ‘leão do Norte’ aparece em jornais no século 19. ‘Sim. Quando os senadores pernambucanos chegavam na Corte eram considerados os ‘leões do norte’. Mas o que me surpreendeu é o número de rótulos e marcas com a imagem e a frase.’ O rótulo da padaria, de 1904, quase não foi aprovado porque havia o da refinaria, do mesmo ano.
O Papel dos Portugueses
‘Com a crise econômica que Pernambuco entra no século 19, há um sentimento de que o comércio e o trabalho estão sendo tomado pelos portugueses’, explica Gisela Abad. ‘Na hora em que o leão aparece como símbolo, é um momento de reafirmação da identidade pernambucana.’
Fonte: @ Terra
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