A fragmentação reduz a força do G20 para pautar a agenda internacional.
Na prestes a saída de um ciclo de crise econômica, o Brasil promoveu no final do ano passado o último encontro do G20, enquanto o presidente norte-americano Donald Trump, que já havia atacado a globalização e prometia proteger os interesses dos EUA, preparava-se para tomar posse como presidente daquele país. Com essa reunião, o Brasil deixou de ser o centro da atenção na arena internacional, dando espaço para a liderança da Turquia em 2023.
Alguns analistas afirmam que a escolha do Brasil para sediar o G20 foi decidida para marcar o fim de uma crise política e financeira prolongada, que havia afetado duramente o país e o mundo. Para outros, a escolha foi uma forma de reafirmar a importância da cooperação internacional na resolução das crises, como a crise financeira de 2008 e a crise climática que ameaça os países do mundo todo. O futuro do multilateralismo é um dos temas que devem ser discutidos durante a reunião do G20, com alguns países defendendo a continuidade das negociações do Acordo de Paris em 2023.
O Impacto da Crise na Dinâmica do G20
A trajetória do republicano nos últimos quatro anos no G20 revela uma consistência surpreendente na firmeza dos EUA, com três de quatro cúpulas culminando sem um consenso unânime. Em cada ocasião, os líderes foram forçados a optar por uma declaração sob a formulação 19+1. Nesse contexto, todos os países se comprometeram em apoiar as metas do Acordo do Clima de Paris, mas os EUA insistiram em incluir um parágrafo específico de dissenso, ressaltando sua decisão de se afastar do Acordo de Paris, por este ser prejudicial aos trabalhadores e contribuintes americanos. Dentro da cúpula de 2019, houve uma tentativa audaciosa de Trump em dividir o G20. Ele aplicou pressão sobre o Brasil, na época sob o comando de Jair Bolsonaro, Turquia e Arábia Saudita para que se aliassem aos EUA na negativa ao Acordo do Clima, de maneira a impossibilitar uma declaração final conjunta. Contudo, um esforço de convencimento do presidente francês, Emmanuel Macron, que não aceitava assinar uma declaração sem compromisso climático, acabou por fazer com que esses líderes apoiassem o texto. No segundo mandato, espera-se um Trump mais refratário a acordos multilaterais e ainda mais capaz de cooptar outros países. Da dissidência da Argentina este ano em temas como gênero, taxação de bilionários e agenda 2030, pode ser que, a partir do ano que vem, o G20 retome seu modelo sem consenso, desta vez com EUA e Argentina impedindo a negociação de um Acordo.
Fonte: @ Valor Invest Globo
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